sexta-feira, 25 de novembro de 2011

25 de novembro

Todo mundo sabe como é ser criança e sentir a véspera do natal, do dia das crianças ou do aniversário. Eu pensava que não ia mais sentir isso quando crescesse, pois de uns tempos prá cá deixei mesmo de sentir. Claro que posso até parafrasear Arnaldo Antunes com "socorro não estou sentindo nada!", e não é a piada do pintinho não, ao contrário, quem conhece minha vida, sabe que deixei de sentir alguma coisa depois de apanhar muito. Fiquei, digamos adormecido, como uma amiga minha de longa data gostava da música do U2, NUMB, por assim dizer. Isso é não sentir nada. Ficar NUMB, palavra sem tradução, a mais próxima seria adormecer, mas adormecer acordado. E quando comecei a revidar, estava um dia como esse, um 25 de novembro, de 2006, mas eu não sentia nada ainda. Nesse dia, nascia Guilherme Joseph Rodrigues. Eu, dentro da sala de parto da maternidade, não conseguia olhar muito, com medo de desmaiar, me escondendo atrás da maca onde estava sua mãe, deitada, passando pelo procedimento de cesariana. Mesmo assim, quase desmaiei. O amor que eu sentia por ele, esse sim eu sentia, vinha crescendo já alguns meses antes, mesmo quando eu diagnostiquei a gravidez, perante a descrença da mãe que dizia estar apenas duas semanas atrasada, e alguns meses depois eu encostava minha mão com a dele apenas separados pela fina pele da barriga intermediária. Rompida a barriga, nada nos separava, pensava eu. Mas eu fiz com que nos separassem. Perdi a mão, me escaparam muitos momentos. Como este do dia 25, perdi muitos, mas me nego a perder mais do que já perdi. E estou aqui, acordado, brigando com o Apolo que existe em mim, para nunca mais deixar de te dar o merecido parabéns que te cabe, filho. E te ensinar talvez a maior lição que eu posso te ensinar, a minha vida como lição. A não desistir dos seus sonhos, mas a saber como construí-los. Pois você é meu maior sonho, e aprendi que não posso ficar longe de ti, que me perco dentro de mim. Ao mesmo tempo, aprendi que ao me perder dentro de mim, a distância entre nós aumenta. Um típico caso de dialética que seu avô adora. Enfim, registro aqui escrito, algo que talvez você vá ler apenas daqui alguns anos. Talvez entenda daqui há mais anos e te comova mais anos ainda e quem sabe te toque e entenda depois que eu já tiver partido. Mas por enquanto, falta muito. Por enquanto eu que me comovo com você aprendendo a escrever seu nome, é apenas seu quinto aniversário. Me comovo com seus bicos iguais aos que eu fazia quando era da sua idade e penso se você será igual na juventude. E hoje sou eu que não durmo na véspera do seu aniversário ansioso para dar seu presente, pois o meu já perdeu a graça. Parabéns, meu filho. Você não tem idéia o quanto eu te amo, por isso, posto esse poema/música que me deu um pouco a idéia do quanto meu pai me ama.

É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter

Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem
De repente eu vejo se transformar num menino igual à mim
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde eu vim
Um menino sempre a me perguntar um porque que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus
Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer ter.

(Vinícius de Moraes / Toquinho)

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