segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Tudo é uma questão de manter... (Walter Franco)


Difícil encontrar na internet algo que seja uma fonte confiável. Ao buscar uma simples referência, a partir de um trecho de uma música, passei vergonha em frente a um amigo meu dizendo que sabia o nome do compositor de certa música mas não lembrava o título e joguei o trecho que vinha à mente na internet mas, curiosamente, não encontrava o autor apenas reprodutores daquela letra ou melhor colocando intérpretes, que levavam o crédito da música como compositores. Quão difícil seria separarmos o joyo do trigo e reconhecermos que tivémos também já no passado bons compositores que foram afogados pela ditadura como Geraldo Vandré, Moacyr Santos e Walter Franco, desparecidos ou lavados cerebralmente como o Geraldo que nega veementemente (é assim que se escreve, perdão se estiver errado), ter sido torturado e fez há alguns anos uma música homenageando a Força Aérea Brasileira. Claro que tudo deve ser analisado no país como pós FHC-Lula, onde a ditadura se tornou tão "branda", e com isso quero dizer colocada nas mãos de outrem, ou seja, saiu das mãos do governo que a privatizou, dando espaço para a ditadura da comunicação onde os veículos de mídia instituem e destituem os políticos ou também sugerem e denigrem as imagens culturais de artistas ou não-artistas que se tornam artistas (mais frequentes o segundo caso), ou a ditadura da alimentação, também fomentada pela mídia que diz "aquilo é bom, comam" e lá vamos nós, como bois no pasto comer aquele "verde" que nem verde é, normalmente um pão com gergelim que nem pão ou gergelim tem. A maior rede de fast-food brasileira concorrente da similar americana, com sanduíches com a mesma qualidade xula, à beira da falência é salva por um milkshake americano, isso não é algo a se refletir?

Não é à alimentação que se restringe tal política quando pensamos por exemplo em termos cinematográficos na falta total de paciência generalizada de platéia para assistir a qualquer filme que não seja americano, ou em seus moldes de ação frenética, tiros, assaltos, o bem vencendo o mal, roteiros que nem americanos conseguem se superar atualmente.

Em relação à qualquer produto de consumo também acontece através da palavra mágica do merchandising. Se eu estiver sendo chato, por favor me digam, mas dentro de suas casas não acontece o mesmo? Na minha aconteceu o seguinte caso: um simples comercial prometia "agora o seu melhor acessório, pode ser o seu sorriso. Um tom mais claro em apenas uma semana". Não nego minha curiosidade. Mas assumo meu espanto ao ver um tubo da tal da pasta de dente em meu armário e só pude dar graças por não ter sido eu o comprador enganado da pasta. Mas me restou fazer o teste. Uma semana de uso, e meus dentes continuaram com o mesmo amarelo que a nicotina não me garante que eles teriam. Ora, qual cigarro seria vendido se dissesse "um tom mais amarelo nos primeiros cinco anos de uso"? E ainda: "a hora que quiser parar vai ser muito mais difícil do que você imagina!" Mas qual fumante quer parar de fumar? Eu não! Eu não quero é sofrer preconceito até em lugares públicos como acontece, não quero ter que virar meu maço de cigarro por causa de imagens que são, no mínimo, escrotas além de mentirosas, não quero ter que sair no frio ou na chuva de um ambiente com amigos para fumar um cigarro. O que aconteceu com os filhos que iam para a balada e voltavam cheirando a cigarros? Agora voltamos cheirosos, como saímos de casa. Se houver cheiro de cigarro era uma amante! Amante e fumante, ora! Coloquemos os pontos nos iis (não sei escrever o plural de i). Primeiramente dando nome aos bois. Walter Franco escreveu "Tudo é uma questão de manter a mente aberta, a espinha ereta, e o coração tranquilo". "Eu quero é botar meu bloco na rua" foi Sérgio Sampaio. Geraldo Vandré foi sim perseguido e se esqueceu ou foi obrigado a esquecer porque esse país AINDA PASSA por uma ditadura cultural (principalmente) onde se nega que a arte é uma profissão (hoje Geraldo vive isolado do mundo, não tem nem televisão e dirige um fusca enquanto jovens estudantes de Relações Internacionais cantam "Prá não dizer que não falei das flores" pela liberação, desculpem legalização, da maconha) e por isso um artista ou é abastado ou deve levar seu trabalho "artístico" como hobby ou sofrer as consequências de optar por uma vida de mendicância e luta pela sobrevivência diária. Belo e artístico é o novo cd de Chico Buarque que lota sessões no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas aonde estão aquelas letras que nos reviravam o estômago de medo do futuro conformado de "Roda Viva", "Pedro Pedreiro", "Construção"?

Quando se vê Lenine dizendo que todos foram a seu show menos a Luiza que está no Canadá, não te dá também uma revolta ou é só em mim? Pois como fez meu amigo de infância, começarei a tacar o controle remoto na televisão a cada mensagem subliminar de comerciais de cerveja? Farei assim o mercado de controles remotos enriquecer, pois será comprado um novo a cada 30 segundos, ao ver a recente invazão do bairro do Pinheirinho, nem dá vontade de jogar o controle, mas de ter a coragem de Édipo e furar os olhos sentindo estar estuprando a própria mãe, se auto-exilar de vergonha de ter nascido num país onde seus próprios cidadãos tem coragem de por uma miséria aos cofres públicos destruírem milhares de famílias e casas em um bairro de São José dos Campos. E não me venham com esse papo de estávamos cumprindo ordens. Quem opera os tratores é o povo. A polícia é o povo. O opressor é o povo oprimindo o povo. Quem se lembra da aula da pirâmide social da escola põe o dedo aqui. O que não contaram naquela aula é que ali naquela massa, na base da pirâmide, ficam os iguais se autodominando e os de cima são os títeres, apenas mandantes do massacre que ocorre na base dia-a-dia. O motorista do ônibus não ganha mais do que os outros 150 passageiros que vão abarrotados na parte de trás de si, mas mesmo assim há em si certa maldade maquiavélica em colocar o 151º passageiro para que pisem-se mais e mais entre brecadas e aceleradas suas no caótico trânsito de São Paulo. Acotovelam-se pessoas de todas as idades para entrar no metrô lotado, hoje a qualquer horário, quase em qualquer estação pois ali se faz uma integração para um trem daqui vai à outra estação para cá pega-se uma nova linha talvez alternativa, mas então chove e tudo piora, e se empurra para dentro, afinal todos querem chegar em casa, são poucas horas de descanso para se estar na companhia de entes queridos, ou às vezes para se fazer mais, cozinhar, limpar, arrumar, preparar o dia seguinte e se imbecializar um pouco na frente da televisão, porque afinal, depois de um dia de insegurança no trabalho, gritos da ex-mulher, da ex-namorada, atual, calos no pé, falta de perspectiva de futuro, preocupações com um dia mais perto da sonhada e longínqua aposentadoria, ninguém é de ferro.

Um comentário:

Jessica Monteiro disse...

Viver (no sentido grego de "bios") é produto de inúmeras experiências, singifica poder deixar uma marca no mundo ao partir. Viver (no sentido grego de "zoes") é simples, exige alimento, repouso, higiene, saúde; há inúmeros seres viventes, a maioria deles não deixará rastro no mundo ao deixá-lo.

Nunca entenderei como tantas pessoas contentam-se em ser "zoes", viver como gado; vestirem a mesma roupa, comerem a mesma coisa, disputar o mesmo pedaço de areia na praia lotada e buscar um lugar ao céu pra fazer uma foto "maneira" com o pau de selfie.