quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Pensamentos em Lynch



Apenas se conhece assim. Uma cabeça voltada para o mundo com uma projeção holográfica através dos olhos onde desenvolvem-se tantas tramas e cenas sobre possibilidades de sua própria trajetória. Ainda que falte a firmeza da decisão simples e egocêntrica de seguir um apropriado caminho. Não aprendeu a espezinhar. Não sabe passar por cima ou destruir e por melhor que pareçam tais, apenas trazem consequências que não se podem ser consideradas positivas no dia a dia. Consola-se com um futuro ganho. Um futuro que raramente chega por esse tal de futuro ser totalmente desconhecido para qualquer ser vivente. 

Não são apenas imagens que rolam por seus olhos mas também música por seus ouvidos, quase que inconstante, trilha scorcesiana que não silencia, apenas restringe sua intensidade em algumas muito poucas situações. Deixando a dica para o futuro, talvez encontre por aqui um desafio: escutar apenas música o torna surdo para o mundo onde vive. 

Mas qual? Se já a partir dessa ideia de mundo se viu como melhor e insuperável, em que momento se convenceu que não podia sê-lo, passou a desejar a vida na caverna quando as sombras lhe eram completamente familiares. Sentou-se em seu canto privilegiado, ao centro, onde teria todas as informações possíveis sem distorções do que seria projetado. Faltaria porém áudio qualquer que não fosse do externo, que não fosse apenas gritos, crianças chorando, revoltas e abates. A imagem não se completa sem seu som próprio e um cérebro treinado percebe rapidamente a desassociação de ambos. Em mundo não conciso buscou a destruição de seu próprio. Estava disposto a se enterrar de vez em sua caverna com tantas projeções que o adormeciam o corpo e a mente. Buscava então o sentido de seu caos unindo o olfato, ou a destruição dele, a uma experiência ainda não conhecida e testada.

Alcançou. Destruiu... (Se houvesse aqui uma pausa em seus olhos que lêem, agora, contaria até dez antes de continuar). Como fôlego que se alcança na superfície, jogado em meio desconhecido passou a escamotear suas reais intenções entre seres em suas cavernas de menor profundidade, sobressaindo-se, ganhando um destaque falso de mente que manipula, de títere dos infernos, como filmes de terror que insistem em imagens inocentes transformadas e distorcidas para gerar susto nos espectadores. Brincava aqui, porém, com as vidas, e não obstante, com a sua, distanciando da saída de sua caverna cada vez mais, engolindo para dentro de sua espiral também outros que nada deveriam ter a ver com nada. Apesar de doído, insistiu em fazer o mal por algum tempo ainda.

Com o número sete recomeçou, enfim, como película queimada em projetor dos anos 50. Conseguiu arrancar-lhe a própria inércia e abandonar uma caverna, quando descobre que havia ido tão fundo que sua morada tornara-se um labirinto de túneis que apenas levavam a becos sem saída. Perdeu-se e perdeu o ritmo de sua passada. Contou a metragem de seus passos a cada dia, para se perder conscientemente novamente, em alguns finais de semana, em plano maquiavelicamente formatado para sobreviver com visitas esporádicas àquela caverna que passou a ser tão sua, que fazia falta. 

Mas agora já tudo isso é passado. Hoje busca. Com impulso de continuidade, levanta-se e ainda procura algo que talvez tenha ficado há tanto tempo que já não se conhece. Epopeia que se consolida em trilogias, apenas uma força o carrega como responsabilidade de criação. Não abandona essa vontade de se perder, essa mania de enganar a si mesmo sobre suas necessidades de existência. Edita seus fatos e aguarda ainda o clímax romântico onde na chuva os corações se felicitam eternamente. Ainda acredita na falta de um que se entregue e o complete. Deixa então de ser cerebral, observa o tamanho do universo e se depara com sua maior fobia: a insignificância.

Nenhum comentário: