sábado, 19 de março de 2016

Dias tensos.

Parte I

Após a lavação de alma (que não é ainda crime) de ontem na paulista, fiquei estarrecido com a decisão do STF de Gilmar Mendes. Senti um terror que se aproxima, já muito perto... ainda duvidava de minhas próprias teorias de conspiração. Duvidava, com esperança, que ainda o pior poderia acontecer, ou estivesse acontecendo, mesmo quando a nova liminar que impede a posse de um ministro empossado dentro da lei, ainda que, sim, em caráter de estratégia de guerra (ué, nada me parece mais natural), tivesse a dura realidade de colocar sobre o País a possibilidade de prisão de um dos maiores líderes politicos que esse país teve até hoje. Para mim esse era o máximo que poderia acontecer. Ok, só teremos resultado após a Páscoa, caso a prisão não se efetive até lá, vamos continuar a militância.


Parte II

Um dos programas que eu e meu filho mais gostamos de fazer é ir ao cinema. E hoje fomos assistir um filme chamado Zootopia que, coincidentemente, narra a história de uma coelha do "povo", que deseja ser policial em um mundo que no passado havia sido dividido entre predadores e presas fáceis. Talvez pela tensão atual, talvez por distração da minha parte, mexi algumas vezes no celular durante o filme. Silenciosamente em uma sala praticamente vazia, onde as poucas crianças e seus pais conversavam abertamente sobre o que quisessem a qualquer momento, como uma sessão da tarde na sala de casa. Era me atualizar ou dormir junto aos violinos melancólicos da disney. 

Eis que ao sair, conversando com meu pequeno, um homem em torno de seus 40 e poucos anos, me aborda com a máxima da educação: "da próxima vez enfia esse celular na bunda". Rapidamente me fazendo de trouxa e desentendido, pedi q ele repetisse a frase. E eis que com o dedo em riste na minha cara, ele repetiu. Da próxima vez enfie esse celular na sua bunda. O coração bateu rápido, senti suor na minha mão instantaneamente e ao sentir minhas mãos senti também a de meu filho que me apertava, apavorado. 

Sinapses rápidas me fizeram perceber. Meu filho, vestido com o uniforme da escola de futebol, todo vermelho, eu carregando sua bolsa também vermelha. Em segundos minha postura passou de defesa passiva a ataque enquanto a personificação ambulante da palavra COXINHA, caminhava à minha frente dando as costas. Passei a chamá-lo de volta. GOLPISTA! REACIONÁRIO! VEM ENFIAR AGORA! IDIOTA BABACA! Nenhuma manifestação de outrem ao meu redor. Apenas meu filho que sentindo minha indignação pediu para que eu não arrumasse briga. 

Ao sair do corredor que ligava a sala de cinema ao shopping, passei a falar alto e em bom tom minha opinião sobre essa direita de bosta que ataca com jogo sujo e golpes baixos qualquer pessoa que opte por algo que não seja o que ela mesma deseja em benefício próprio. Se ouviram falar de alguém que saiu do shopping gritando "Não vai ter golpe" hoje, esse era eu. Vi pessoas atrás dos balcões apoiando com olhares, seguranças fazendo vista grossa para não reprimir minha atitude que chamava atenção e ainda, muitas pessoas que não olhavam, mas através de suas não-atitude, percebi que me condenavam.

Porém foi a primeira vez que encontrei um desses justiceiros. Foi a primeira vez que quase apanhei na frente do meu filho, e pela mesma razão (usar vermelho) teria que defendê-lo. Todas as teorias de conspiração foram confirmadas. A irresponsabilidade de Juízes do Supremo e primeira instância, colocaram esse país em guerra civil. Não estamos sofrendo um golpe. Já foi dado o golpe. Algo que demorei a entender, em um país onde a constituição (separação dos poderes) não vale mais nada. 

É preciso que se grite individualmente, não apenas em manifestações. É necessário que se mostre a cada momento que não somos loucos, doentes, viajando sobre um golpe que não irá acontecer. Sim. Aconteceu.

A partir do momento que um juiz é um herói por cometer um crime, todo criminoso se torna inocente. A partir do momento que a OAB apoia um impeachment sem provas, qualquer idiota levanta o dedo na sua cara e fala o que lhe vier à cabeça. 

Como dizem os estadunidenses "enough is enough". E como dizia Che, "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura". Atualmente derrubo parte de Che de meus conceitos. Acabou a ternura. Aqui só tem endurecimento. Devemos nos preparar para o pior e mostrar nas ruas o tempo todo que não aceitamos esse golpe. Gritem de suas janelas, em pequenas aglomerações, em reuniões de condomínio. Não esperem a próxima jogada, a próxima manifestação. Ou mudamos o sistema ou essa história se repetirá eternamente, e logo, a minha história também se repetirá com você. É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte. 

Só me arrependo de não ter conseguido tirar uma foto do pulha. Como com muitos, comigo quando o sangue esquenta, a inteligência esfria. 

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